domingo, 28 de fevereiro de 2010

Minha filha tem um transtorno alimentar. E agora?

Muitos pais ao terem a filha (ou filho) diagnosticado com um transtorno alimentar são invadidos por um turbilhão de sentimentos que incluem medo, sentimento de culpa, insegurança, raiva, entre outros. Não é incomum pais perguntarem "Doutora, onde foi que erramos?" ou mesmo chegarem ao consultório médico sem saber por onde começar para ajudar a filha a superar o transtorno alimentar. Sem saberem como agir e como abordá-la, muitos acabam acompanhando o quadro a distância, sentindo-se culpados e achando que o melhor é manter o distanciamento, quando já existem evidências científicas de que a melhor postura é justamente a contrária a esta.

Em primeiro lugar é importante ressaltar que, apesar da família poder contribuir para a causa ou mesmo a manutenção de um transtorno alimentar, os pais não podem ser considerados a causa primária  ou mesma exclusiva do transtornos alimentar em suas filhas. A própria Academy for Eating Disorders (AED, uma academia internacional que reúne especialistas do mundo todo) publicou recentemente um artigo de posicionamento reafirmando a não culpabilidade exclusiva da família na gênese do transtorno alimentar e a importância de sua participação no processo de cura (clique aqui para ler artigo do blog sobre o posicionamento da AED). Os transtornos alimentares são considerados quadros de causas múltiplas que se combinam para gerar a doença e podem envolver fatores genéticos, ambientais e/ou familiares na sua origem.


O segundo ponto é a importância dos pais se informarem a respeito do transtorno alimentar. Este ato, por si só, pode aliviar aquelas angústias que são fruto do desconhecimento e de conceitos equivocados, além de garantir que a família da jovem procurará o tratamento correto para o quadro, uma vez que estará bem informada. Já estão disponíveis alguns bons livros direcionados para pais no assunto. O primeiro deles é o Eating Disorders: A Parents' Guide (Paperback), dos especialistas ingleses Rachel Bryant-Waugh e Bryan Lask. O livro é extremamente informativo, discorrendo sobre as características dos principais transtornos alimentares na infância e na adolescência, suas causas e como o tratamento deve ocorrer. Ele está disponível em inglês na versão impressa em papel e na versão para Kindle (podem ser adquiridos no site da Amazon). O único problema é que o livro, infelizmente, ainda não foi traduzido para o português.


Também está disponível um outro bom livro, este já traduzido para o português e escrito por duas das maiores autoridades no mundo no tratamento de anorexia nervosa na infância e na adolescência. Trata-se do título "Ajude seu filho a enfrentar os distúrbios alimentares. Bulimia - Anorexia. Alimentação e exercícios físicos compulsivos", de James Lock e Daniel Le Grande, publicado pela editora Melhoramentos no Brasil. Este livro, a semelhança do primeiro, se propõe a fornecer respostas diretas e fatos sobre distúrbios alimentares, baseados em evidências de pesquisas e na extensa experiência clínica dos autores. Os autores também reforçam na intimidade do livro a importância da participação dos pais no tratamento e no processo de melhora da criança/adolescente. Outra grande qualidade deste livro é que existem muitos sinais de alerta que os pais deveriam reconhecer em relação aos hábitos alimentares de suas filhas adolescentes e este tema é abordado de forma clara e objetiva.

A internet também tem alguns site de muita qualidade com material direcionado a pais. A AED possui dois vídeos informativos direcionados a pais (clique aqui para ter acesso) e uma página com informações sobre os transtornos alimentares em geral (leia a página About Eating Disorders da AED). Um site também extremamente informativo é o Maudsley Parents - A site for parents of eating disordered children, onde é esclarecida a abordagem Maudsley para tratamento familiar de anorexia nervosa em crianças e adolescentes, uma das técnicas de tratamento de anorexia com mais evidências científicas de sucesso. Estes sites também estão disponíveis apenas em inglês, mas para aqueles que não têm maiores dificuldades com a língua são fontes de altíissima qualidade de informação.

Outras fontes de informação sobre os transtornos alimentares, disponíveis em português são os sites dos serviços públicos especializados assistenciais e de pesquisa de referência (PROATA, AMBULIM, GOTA), cujos links estão disponíveis na barra lateral esquerda deste blog.

Como o leitor pode ver, muita informação de qualidade já está disponível para pais de crianças e adolescentes com transtornos alimentares. Informar-se, utilizando fontes seguras como meio, pode auxiliá-los a sair da paralisia da culpa e assumirem um papel mais produtivo, atuante e pró-ativo na recuperação de sua filha.

* * *
As informações divulgadas neste blog não substituem aconselhamento profissional. Antes de tomar qualquer decisão, procure um médico.

3 comentários:

Unknown disse...

Excelente Tati, vou repassar para os amigos lerem também.

Anônimo disse...

Thank you for this very informative post! Readers might be interested in this article by Harriet Brown, discussing her family's experience with the Maudsley approach (in Portuguese.) Uma colherada por vez


Jane Cawley, co-chair
Maudsley Parents
maudsleyparents.org

Tatiana Moya disse...

Dear Jane, thank you very much for citing this article in Portuguese by Harriet Brown. I knew other articles by Harriet Brown and her personal experience, but I didn´t know this one in Portuguese and it is superb! It will help a lot many Brazilian parents whose children suffer from anorexia nervosa.