sábado, 15 de maio de 2010

Saúde mental da criança com asma e seu cuidador

A asma é uma doença reativa reversível das vias aéreas (curso em crises), desencadeada por diversos gatilhos, entre eles, gatilhos imunológicos, infecciosos, fisiológicos e emocionais. Trata-se da doença crônica mais prevalente na infância e afeta mais de 5 milhões de crianças nos Estados Unidos.
Alguns estudos mostram que crianças com asma grave que apresentem comprometimento funcional persistente e necessitem de múltiplas medicações, inclusive corticosteróides, para controlar os seus sintomas, apresentam um risco maior de manifestarem distúrbios emocionais.

Causa da asma
Trata-se de uma condição herdada, cuja expressão envolve múltiplos genes de suceptibilidade. A atopia (alergias) é o fator predisponente mais identificado. Exposição a fumaça de cigarro (tabaco), especialmente
proveniente da mãe da criança, também é um fator de risco. A sensibilização a alérgenos inalatórios (como ácaro, descamação de epitélio de animais, mofo, etc) é encontrada na maior parte das crianças asmáticas. Raramente, alimentos podem provocar sintomas isolados de asma. Outros gatilhos incluem atividade física, ar frio, fumaça de cigarro, poluentes, odores químicos fortes (produtos de limpeza, perfumes, etc) e mudanças rápidas do tempo. Fatores psicológicos podem precipitar exacerbação do quadro.

Sinais e sintomas da asma
O chiado é o sinal mais característico, embora algumas crianças com asma não chiem por serem portadoras da variante do tipo tosse. É comum, além do chiado, crianças asmáticas apresentarem tosse prolongada, bronquite recorrente, pneumonia e queixarem-se de "peito cheio", dificuldade respiratória ao exercício físico e falta de ar.

Curso da asma
Desde 1970 a mortalidade por asma aumentou. Os dados estatísticos sugerem que uma alta porcentagem das mortes ocorreram por uma detecção falha da gravidade da asma e pelo tratamento inadequado do quadro, especialmente em pacientes que apresentam uma asma lábil ou naqueles cuja percepção da obstrução pulmonar é muito pobre. Estudos de longo prazo sugerem que crianças com sintomas leves geralmente superam o quadro, enquanto crianças com sintomas mais graves, vias aéreas hiper reativas e um grau maior de atopia (alergias) tendem a evoluir com um quadro de asma persistente. É possível que a detecção e tratamento com terapia anti-imflamatória  precoces e controle das variáveis ambientais podem alterar a história natural da doença para um curso melhor.

Sáude mental da criança com asma
Em crianças com asma leve praticamente não há incapacitação e a doença pode ser bem controlada com o uso de broncodilatadores inalatórios. Já em formas mais graves da doença, o uso crônico de corticosteróides orais pode ser necessário e limitações na atividade física ocorre como conseqüência dos sintomas respiratórios. As crianças com asma leve apresentam aparência física normal, já aqueles que necessitam de tratamento crônico com doses altas de corticosteróides podem apresentar aparência alterada, com retardo de crescimento e escoliose. Crianças com estes sinais de doença avançada apresentam um risco aumentado para se adaptar aos desafios do desenvolvimento na adolescência e para problemas de humor, como depressão. Estas crianças estão sob um risco grande de problemas emocionais e comportamentais, especialmente se suas famílias apresentam dificuldade em se adaptar a este contexto e promover o suporte e estrutura adequados para lidar com esta condição.
A grande maioria das crianças com asma não vão necessitar de tratamento psicológico. No entanto, se você suspeita que o seu filho pode estar sofrendo de depressão ou confundindo crises de pânico com crises de asma, procure ajuda profissional. Alguns estudos mostram que crianças com asma tem um risco duas vezes maior de desenvolver ansiedade e depressão quando comparadas a crianças não portadoras. No entanto, em metade delas, os pais não identificam corretamente estes quadros emocionais em seu filho com asma.
Você também deve procurar ajuda profissional caso, em função da asma, depressão ou ansiedade, o seu filho não esteja conseguindo exercer suas tarefas do dia a dia. É importante que a criança consiga ir para a escola com regularidade, tenha atividades esportivas, brinque, socialize, seja capaz de dormir na casa de amigos, etc.

Saúde mental dos pais e cuidadores da criança com asma
Cuidar de um portador com asma pode ser uma tarefa desafiadora e nada fácil, especialmente se este portador é uma criança ou mesmo o seu filho. A monitoração contínua do quadro, cuidar da administração de medicações (as vezes em intervalos de horas apenas), noites mal dormidas e o estresse emocional de lidar com uma condição crônica, são fatores que podem colocar o cuidador em risco para uma série de problemas emocionais, como depressão e ansiedade. Por conta disso, é muito importante que o cuidador se enxergue também como uma pessoa que necessita se cuidar. É importante que ele encontre um tempo para dedicar a si e uma pessoa com a qual possa dividir os cuidados da criança em crise. Isto é fundamental para que seja possível espairecer ou mesmo descansar em momentos difíceis. Também é fundamental que o cuidador, assim que possível, reponha o sono perdido em uma noite junto a criança em crise. O cansaço crônico e noites mal dormidas acumulados podem interferir com o humor e com a capacidade de lidar com uma exacerbação da asma com o equilíbrio emocional que ela exige. E também vale o alerta que se o cuidador passa a enfrentar sintomas como insônia, choro fácil, ansiedade pronunciada, tristeza excessiva e/ou falta de energia; eles podem ser o alerta de uma complicação emocional que tenha se instalado. Em dúvida, o cuidador deve procurar um profissional habilitado para avaliar a sua saúde mental e, se necessário, tratá-la.
Outro dado importante é o de que, em sabendo-se que a asma é uma condição herdável, o diagnóstico dado para a criança pode ser particularmente perturbador para o pai que seja portador da condição. Sentimentos fortes de culpa podem ser mobilizados e pode ser necessário tratamento psicoterápico.

Ser portador de asma e a decisão de gerar filhos
Pais que tenham um quadro leve de asma podem nunca ter considerado a própria doença como algo a ser levado em conta na decisão de optar por ter filhos ou não. Já pais portadores de asma grave geralmente dão um peso muito grande ao risco potencial para os seus filhos. Adicionalmente, a decisão de uma mulher com asma grave em ter um filho pode ser difícil por ela se dar conta de que a sua própria doença pode ter um controle mais difícil durante a gestação, já que cerca de um terço das mulheres asmáticas experimentam exacerbação dos sintomas durante a gravidez. Questões como estas devem ser discutidas com seu obstetra, clínico e pediatra, de forma a desfazer-se dos mitos e lidar com os fatos como eles realmente são.

Fontes úteis de informação
Existem alguns artigos interessantes com informações sobre asma para leigos no site norte-americano Everyday Health, alguns especialmente relevantes para aqueles que tem filhos com asma (artigos "Supporting Your Asthmatic Child"; "4 Steps You Can Take to Prevent Asthma Attacks at School";" Asthma and Independent Teens", entre outros). Também existe informação valiosa para cuidadores de pessoas com asma, com dicas de como se preservar diante de tanto estresse físico e emocional (artigo "7 Tips for Asthma Caregivers"; "Building Your Own Asthma Caregiver Support System"; entre outros). Infelizmente toda esta literatura está disponível na língua inglesa.
Também existem algumas associações para portadores de asma, amigos e famílaires, que podem ter um papel importante educional além de possibilitar o contato com outros que compartilham o mesmo problema. No Brasil existe a  Associação Brasileira de Asmáticos e fora do país a Asthma and Allergy Foundation of America , sendo que as publicações desta última podem ser seguidas através do Twitter, disponíveis no seu site.

Fontes: (1) site Everyday Health; (2) Mrazek DA. Psychiatric Aspects of Somatic Disease and Disorders. In: Rutter M e Taylor E (ed.). Child and Adolescent Psychiatry. 4a. Edition. Blackwell Publishing, Oxford UK, 2002, pp. 811-12; (3) Boguniewicz M. Allergic Disordets. In: Hay WW, Levin MJ, Sondheimer JM e Deterding RR. Current Pediatric Diagnosis & Treatment. 7th Edition. Lange Medical Books/Mc Graw Hill, 2003, pp.1080-1091. 

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As informações divulgadas neste blog não substituem aconselhamento profissional. Antes de tomar qualquer decisão, procure um médico.

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